3 de mai. de 2013

Capitulo 8 e 9


Eu voltei para a mesa de pebolim com uma fria estupefação. Elliot estava inclinado sobre ele, seu rosto mostrando uma concentração competitiva. Miley berrava e ria. Jules ainda estava desaparecido.
Miley olhou por cima do jogo. “Bem? O que aconteceu? O que ele disse para você?”
“Nada. Eu disse a ele para não nos incomodar. Ele foi embora.” minha voz soava monótona.
“Ele não pareceu bravo quando foi embora,” Elliot disse. “O que quer que você tenha dito, funcionou.”
“Que pena,” Miley disse. “Eu estava esperando alguma animação.”
“Prontas para jogar?” Elliot perguntou. “Estou faminto por algumas pizzas arduamente ganhas.”
“É, se o Jules voltar algum dia,” disse Miley. “Estou começando a achar que talvez ele não goste da gente. Ele fica desaparecendo. Estou começando a achar que é uma deixa não-verbal.”
“Está brincando? Ele ama vocês.” Elliot disse com entusiasmo de mais. “Ele só é meio devagar em se acostumar com estranhos. Eu irei achá-lo. Não vão a lugar algum.”
Assim que Miley e eu ficamos sozinhas, eu disse, “Sabe que eu vou te matar, certo?”
Miley levantou suas palmas e deu um passo para trás. “Eu estava te fazendo um favor. Elliot é louquinho por você. Depois que você saiu, eu disse a ele que você tinha, tipo, dez caras te ligando toda noite. Você devia ter visto a cara dele. Mal continha a inveja.”
Eu resmunguei.
“É a lei da oferta e procura,” Miley disse. “Quem pensaria que economia seria útil?”
Eu enfiei minha palma contra minha testa. “Eu preciso de algo.”
“Você precisa do Elliot.”
“Não, eu preciso de açúcar. Bastante. Eu preciso de algodão-doce.” O que eu precisava era de uma borracha grande o bastante para apagar toda a evidência do Joe da minha vida. Particularmente a parte de falar com a mente. Eu estremeci. Como ele estava fazendo isso? E por que eu? A não ser... que eu tivesse imaginado isso. Bem como eu tinha imaginado bater em alguém com o Neon.
“Eu também precisava de um pouco de açúcar,” Miley disse. “Eu vi um vendedor perto da entrada do parque ao entrarmos. Eu fico aqui para que o Jules e o Elliot não achem que a gente fugiu, e você pode pegar o algodão-doce.”
Do lado de fora, eu retrocedi para a entrada, mas quando eu achei o vendedor de algodão-doce, eu fui distraída por uma visão distante no passadiço. O Arcanjo elevava-se sobre o alto das árvores. Um serpentear de canos fechados nos semáforos e que mergulhavam para fora de vista. Eu me perguntei por que Joe queria se encontrar. Eu senti um soco no meu estômago e provavelmente devia ter aceito isso como resposta, mas apesar das minhas melhores intenções, eu me encontrei continuando pelo passadiço em direção ao Arcanjo.
Eu fiquei com o fluxo do tráfego a pé, mantendo meus olhos no rumo distante do Arcanjo fazendo curvas no céu. O vento tinha mudado de frio para gelado, mas não era essa a razão de eu me sentir cada vez mais enjoada. A sensação estava de volta àquela sensação fria e de parar o coração de que alguém estava me observando.
Eu roubei um olhar para ambos os lados. Nada anormal na minha visão periférica. Eu girei 180º graus. Um pouco para trás, parado em um pequeno pátio de árvores, uma figura encapuzada se virou e desapareceu na escuridão.
Com o meu coração batendo mais rápido, eu passei por um comprido grupo de pedestres, colocando distância entre eu e a clareira. Diversas passadas adiante, eu olhei para trás novamente. Ninguém se sobressaia me seguindo.
Quando eu encarei à frente novamente, eu trombei em alguém. “Desculpe!” eu falei apressadamente, tentando ganhar novamente meu equilíbrio.
Joe sorriu maliciosamente para mim. “Sou difícil de resistir.”
Eu pestanejei para ele. “Deixe-me em paz.” Eu tentei dar um passo para o lado dele, mas ele me pegou pelo cotovelo.
“Qual o problema? Você parece prestes a vomitar.”
“Você tem esse efeito em mim,” eu retruquei.
Ele riu. Eu tive vontade de chutar suas canelas.
“Você precisa de uma bebida.” Ele ainda me pegava pelo cotovelo, e ele me empurrou na direção do carrinho de limonada.
Eu afundei em meus saltos. “Você quer ajudar? Fica longe de mim.”
Ele empurrou um cacho para longe do meu rosto. “Amo o cabelo. Amo quando está fora de controle. É como ver um lado de você que precisa sair mais freqüentemente.”
Eu alisei meu cabelo furiosamente. Assim que eu percebi que estava tentando me deixar mais apresentável para ele, eu disse, “Tenho que ir. A Miley está esperando.” Uma pausa irritada. “Acho que te vejo na aula na segunda.”
“Ande no Arcanjo comigo.”
Eu estiquei meu pescoço, encarando-o. Gritos estridentes ecoaram enquanto os carros ressoavam nos trilhos.
“Duas pessoas por assento.” Seu sorriso mudou para um sorriso malicioso vagaroso e ousado.
“Não.” De jeito nenhum.
“Se continuar fugindo de mim, você nunca vai descobrir o que realmente está acontecendo.”
Aquele comentário deveria ter feito eu correr. Mas não fez. Era quase como se o Joe soubesse exatamente o que dizer para atiçar a minha curiosidade. Exatamente o que dizer, exatamente no momento certo.
“O que está acontecendo?”
“Só há uma maneira de descobrir.”
“Não posso. Tenho medo de altura. Além do mais, a Miley está esperando.” Só que, de repente, pensar em subir tão alto no ar não me assustava. Não mais. De um jeito absurdo, sabendo que eu estaria com o Joe me fez sentir segura.
“Se você der uma volta completa sem gritar, eu direi ao Treinador para mudar nossos assentos.”
“Eu já tentei. Ele não cede.”
“Eu posso ser mais, convincente que você.”
Eu tomei seu comentário como insulto pessoal. “Eu não giro,” eu disse. “Não por causa de parques de diversão.” Não por sua causa.
No ritmo do Joe, eu caminhei até o final da linha levando para o Arcanjo. Um arrojo de gritos se levantou, então se dissipou, bem acima no céu noturno.
“Eu nunca te vi no Delphic antes,” Joe disse.
“Você vem muito aqui?” Eu fiz uma nota mental para não fazer mais viagens de final de semana para o Delphic.
“Eu tenho um histórico com o local.”
Nós fomos nos aproximando na linha a medida em que os carros se esvaziavam e um novo grupo de perseguidores de emoção embarcava no brinquedo.
“Deixe-me adivinhar,” eu disse. “Você matou aula aqui ao invés de ir para a escola no ano passado.”
Eu estava sendo sarcástica, mas Joe disse, “Responder isso significaria iluminar o meu passado. E eu gostaria de mantê-lo no escuro.”
“Por quê? Qual o problema com o seu passado?”
“Eu acho que agora é uma boa hora para falar sobre isso. Meu passado pode assustá-la.”
Tarde demais, eu pensei.
Ele deu um passo mais para perto e nossos braços se encontraram, uma conexão roçante que fez com que os pelos no meu braço se levantassem. “As coisas que eu tenho a confessar não são as coisas que você conta a sua petulante parceira de biologia,” ele disse.
O vento frigido se envolveu ao meu redor, e quando eu o respirei, ele me encheu com gelo. Mas não se comparou com a gelidez que as palavras de Joe mandaram por mim.
Joe sacudiu seu queixo para a rampa. “Parece que é a nossa vez.”
Eu empurrei o portão giratório. Na hora em que chegamos à plataforma de embarque, os únicos carros vazios eram os bem da frente e bem de trás da montanha-russa. Joe se dirigiu em direção do primeiro.
A construção da montanha-russa não inspirava confiança, remodelado ou não. Parecia ter mais de um século e era feito de madeira que tinha passado muito tempo exposto aos elementos desagradáveis do Maine. O desenho pintado nas laterais era ainda menos inspirador.
O carro que Joe tinha escolhido tinha um agrupamento de quatro desenhos. O primeiro representava uma aglomeração de demônios chifrudos arrancando as asas de um anjo gritando. O próximo desenho mostrava o anjo sem asas empoleirado em uma lápide, observando as crianças brincarem à distância. No terceiro desenho, o anjo sem asas estava perto de uma criança, entortando um dedo para uma pequena menina de olhos verdes. No desenho final, o anjo sem asas passava através do corpo da garota como um fantasma. Os olhos da garota estavam pretos, seu sorriso tinha sumido, e ela tinha brotado chifres como os demônios do primeiro desenho. Uma lua rachada estava pendurada sobre os desenhos.
Eu desviei meus olhos e assegurei a mim mesma que era o ar frigido que estava fazendo minhas pernas tremerem. Eu deslizei para o carro ao lado do Joe.
“Seu passado não me assustaria,” eu disse, ajustando meu cinto de segurança no meu colo. “Acho que eu ficaria mais horrorizada do que tudo.”
“Horrorizada,” ele repetiu. O tom da sua voz me fez acreditar que ele tinha aceito a acusação. Estranho, já que o Joe nunca se degradava.
Os carros rolaram para trás, então se lançaram para frente. Não de um jeito suave, nós nos dirigimos para longe da plataforma, subindo colina acima uniformemente. O cheiro de suor, ferrugem, e água salgada soprando do mar encheu o ar. Joe sentava-se perto o bastante para ser cheirado. Eu capturei o traço mais leve de sabonete de menta espesso.
“Você está pálida,” ele disse, inclinando-se para ser ouvido por sobre os trilhos estalando.
Eu me senti pálida, mas não admiti isso.
No cume da colina, houve um momento de hesitação. Eu conseguia enxergar por quilômetros, observando onde à região rural se misturava com o barulho dos subúrbios e gradualmente se tornava a grade dos lugares de Portland. O vento retinha-se, permitindo que o úmido assentasse na minha pele.
Sem querer, eu roubei uma olhada para o Joe. Eu encontrei um sentido de consolação em tê-lo ao meu lado. Então ele lançou um sorriso sarcástico.
“Assustado, Anjo?”
Eu apertei a barra de metal parafusada na frente do carro enquanto senti meu peso insinuar-se para frente. Uma risada trêmula escapou de mim.
Nosso carro voou demoniacamente rápido, meu cabelo chicoteando atrás de mim. Inclinando-se para a esquerda, então para a direita, nós tremíamos sobre os trilhos. Dentro, eu senti meus órgãos flutuarem e caírem em resposta ao passeio. Eu olhei para baixo, tentando me concentrar em algo que não estivesse se movendo.
Foi então que eu notei que meu cinto de segurança tinha se soltado.
Eu tentei gritar para o Joe, mas minha voz foi engolida pelo movimento do ar. Eu senti meu estômago ficar oco, e eu soltei a barra de metal com uma mão, tentando colocar o cinto de segurança ao redor da minha cintura com a outra. O carro se lançou para a esquerda. Eu bati de ombros com o Joe, pressionando contra ele tão arduamente que doía. O carro levantou vôo, e eu senti se levantar dos trilhos, não totalmente fixo neles.
Nós estávamos submergindo. As luzes piscando nos trilhos me cegavam; eu não conseguia ver pra que lado o trilho se virava no final do mergulho.
Era tarde demais. O carro inclinou-se para a direita. Eu senti uma onda de pânico, e então aconteceu. Meu ombro esquerdo bateu contra a porta do carro. Ela se abriu, e eu fui arrancada do carro enquanto a montanha-russa acelerava sem mim. Eu rolei para os trilhos e lutei por algo para me ancorar. Minhas mãos não achavam nada, e eu desabei sobre a beirada, mergulhando diretamente para baixo pelo ar negro. O chão se acelerou até mim, e eu abri minha boca para gritar.
Quando dei por mim, o passeio acabou repentinamente na plataforma de desembarque.
Meus braços doíam de tão apertado que Joe me segurava. “Agora, isso é o que eu chamo de grito,” ele disse, sorrindo ironicamente para mim.
Estupefata, eu o observei colocar uma mão sobre sua orelha como se o meu grito ainda ecoasse lá. Nenhum pouco certo do que tinha acabado de acontecer, eu encarei o lugar em seu braço onde as minhas unhas tinham deixado semi-círculos tatuados em sua pele. Então os meus olhos se moveram para o meu cinto de segurança. Estava preso ao redor da minha cintura.
“Meu cinto de segurança...,” eu comecei. “Eu achei –”
“Achou o quê?” Joe perguntou, soando genuinamente interessado.
“Eu achei... eu voei para fora do carro. Eu literalmente achei... que eu ia morrer.”
“Eu acho que esse é o objetivo.”
Nas minhas laterais, meus braços tremeram. Meus joelhos cambaleavam ligeiramente sob o peso do meu corpo.
“Acho que estamos presos como parceiros,” disse Joe. Eu suspeitei de um leve grau de vitória em sua voz. Eu estava espantada demais para discutir.
“O Arcanjo,” eu murmurei, olhando por sobre o meu ombro para o passeio, que tinha começado sua próxima ascendência.
“Significa um anjo de alto nível.” Havia uma presunção definitiva em sua voz. “Quanto mais alto, mais dura é a queda.”
Eu comecei a abrir a minha boca, querendo dizer novamente como eu tinha certeza que tinha deixado o carro só um momento e que forças além da minha habilidade de explicar tinham me posto de volta em segurança atrás do meu cinto de segurança. Ao invés, eu disse, “Eu acho que sou uma garota mais do tipo anjo da guarda.”
Joe sorriu afetadamente de novo. Me guiando pelo caminho, ele disse, “Te levarei de volta para a Arcada.”
Capítulo Nove
EU CORTEI A MULTIDÃO DO LADO DE DENTRO DA ARCADA, PASSANDO pelo quiosque e pelos banheiros. Quando as mesas de pebolim entraram no campo de visão, Miley não estava em nenhuma delas. Tampouco Elliot ou Jules.
“Parece que eles foram embora,” Joe disse. Seus olhos talvez tenham tido uma fatia de divertimento. Mas também, com o Joe, poderia tão facilmente ter sido algo inteiramente diferente. “Parece que você precisa de uma carona.”
“Miley não me deixaria,” eu disse, ficando na ponta dos pés para ver por sobre o alto da multidão. “Eles provavelmente estão jogando tênis de mesa.”
Eu passei a multidão pela lateral enquanto Joe seguia atrás, entornando uma lata de refrigerante que tinha comprado no caminho. Ele tinha se oferecido para me comprar uma, mas no meu estado atual, eu não estava certa se conseguiria segurá-la.
Não havia rastros da Miley ou do Elliot nas mesas de tênis.
“Talvez eles estejam nas máquinas de fliperama,” Joe sugeriu. Ele definitivamente estava caçoando de mim.
Eu me senti ficar um pouco vermelha no rosto. Onde estava a Miley?
Joe ofereceu seu refrigerante. “Certeza que não quer uma bebida?”
Eu olhei da lata para o Joe. Só porque o meu sangue esquentava ao pensar em colocar a minha boca onde a dele estivera não queria dizer que eu tinha que contar a ele.
Eu escavei a minha bolsa e puxei meu celular. A tela no meu telefone estava preta e se recusava a ligar. Eu não entendia como a bateria podia ter acabado quando eu havia carregado-a logo antes de ir embora. Eu apertei o botão de ligar continuamente, mas nada aconteceu.
Joe disse, “Minha oferta ainda está de pé.”
Eu pensei que ficaria mais segura pegando carona de um estranho. Eu ainda estava balançada por causa do que tinha acontecido no Arcanjo, e não importava quantas vezes eu tentasse apagar isso, o imaginário de cair repetia-se na minha cabeça. Eu estava caindo... e então o passeio tinha acabado. Bem assim. Era a coisa mais aterrorizante pela qual eu já tinha passado. Quase tão aterrorizante era que eu era a única que parecera notar. Nem mesmo o Joe, que tinha estado bem ao meu lado.
Eu bati minha palma na minha testa. “O carro dela. Ela está provavelmente me esperando no estacionamento.”
Trinta minutos mais tarde eu já havia caçado o estacionamento todo. O Neon tinha ido embora. Eu não acreditava que a Miley tinha ido embora sem mim. Talvez tivesse havido uma emergência. Eu não tinha como saber, já que não podia checar as mensagens no meu celular. Eu tentei conter as minhas emoções, mas se ela tivesse me deixado, eu tinha uma ampla quantidade de raiva fervendo sob a superfície, pronta para derramar.
“Já está sem opções?” perguntou o Joe.
Eu mordi meu lábio, pesando minhas outras opções. Eu não tinha outras opções. Infelizmente, eu não estava certa se estava pronta para aceitar a oferta do Joe. Em um dia normal, ele exalava perigo. Hoje havia uma mistura potente de perigo, ameaça, e mistério, todos juntos.
Finalmente eu soltei um suspiro e rezei para não estar prestes a cometer um erro.
“Você me levará diretamente para casa,” eu disse. Soava mais como uma pergunta do que uma ordem.
“Se é isso que você quer.”
Eu estava prestes a perguntar ao Joe se ele tinha notado algo de estranho no Arcanjo, quando eu me impedi. Eu estava assustada demais para perguntar. E se eu estava vendo coisas que não estavam realmente acontecendo? Primeiro o cara com a máscara de esqui. Agora isso. Eu tinha bastante certeza que o Joe falando com a minha mente era real, mas o resto? Não tinha tanta certeza.
Joe se aproximou algumas vagas. Uma moto preta brilhante descansava no estribo lateral. Ele subiu e inclinou sua cabeça para o assento atrás de si. “Sobe aí.”
“Uau. Bike legal,” eu disse. O que era uma mentira. Parecia como uma armadilha mortal preta brilhante. Eu nunca tinha subido numa moto, na minha vida, nunca. Eu não estava certa se queria mudar isso hoje à noite.
“Eu gosto da sensação do vento no meu rosto,” eu continuei, esperando que minha bravata mascarasse o meu terror de me deslocar em velocidade acima de 104 quilômetros por hora com nada entre mim e a estrada.
Havia um capacete – preto com um visor escuro – e ele o segurou para mim.
Tomando-o, eu passei a minha perna por cima da bike e percebi como me sentia insegura com nada além de uma tira de assento debaixo de mim. Eu deslizei o capacete por sobre os meus cachos e o prendi debaixo do meu queixo.
“É difícil dirigir?” eu perguntei. O que eu realmente quis dizer era, É seguro?
“Não,” Joe disse, respondendo tanto a minha pergunta proclamada quanto a não. Ele riu suavemente. “Você está tensa. Relaxe.”
Quando ele saiu do estacionamento, a explosão de movimento me assustou; eu estivera segurando a camiseta dele com justo o bastante de tecido entre os meus dedos para manter meu equilíbrio. Agora eu lacei meus braços ao redor dele em um abraço de urso ao contrário.
Joe acelerou na rodovia, e minhas coxas se apertaram ao redor dele. Eu esperei ter sido a única a notar.
Quando alcançamos a minha casa, Joe parou a bike na estrada ensopada de névoa, parou o motor, e pulou fora. Eu removi meu capacete, equilibrando-o cuidadosamente no assento na minha frente, e abri a minha boca para dizer algo do tipo Obrigada pela carona, te vejo segunda.
As palavras dissolveram a medida em que o Joe cruzava a entrada e se dirigia para os degraus da varanda.
Eu não conseguia começar a especular o que ele estava fazendo. Andando comigo até a porta? Altamente improvável. Então... o quê?
Eu subi na varanda atrás dele e encontrei-o na porta. Eu observei, dividida entre confusão e uma preocupação escalante, a medida em que ele retirava um molho de chaves familiares de seu bolso e inseria a chave da minha casa na fechadura.
“Devolve as minhas chaves,” eu disse, desconcertada por não saber como as minhas chaves tinham ido parar na possedele.
“Você derrubou elas na arcada quando estava caçando o seu celular,” ele disse.
“Não ligo onde eu as derrubei. Devolva-as.”
Joe ergueu suas mãos, clamando inocência, e se afastou da porta. Ele inclinou um ombro contra os tijolos e me observou chegar até a fechadura. Eu tentei virar a chave. Eu dei um passo para trás. “Vá em frente. Tente. Está presa.”
Com um clique afiado, ele virou a chave. A mão postada na maçaneta, ele arqueou suas sobrancelhas como se para dizer Posso?
Eu engoli em seco, enterrando uma onda de fascínio mútuo e inquietação. “Vá em frente. Não vai esbarrar em ninguém. Estou sozinha em casa.”
“A noite toda?”
Imediatamente, eu percebi que podia não ter sido a coisa mais esperta a se dizer. “Dorothea virá logo.” Isso era mentira. Dorothea há muito tinha ido. Estava perto da meia-noite.
“Dorothea?”
“A empregada. Ela é velha – mas forte. Muito forte.” Eu tentei me espremer para passar por ele. Sem sucesso.
“Soa aterrorizante,” ele disse, retirando a chave da fechadura. Ele a segurou para mim.
“Ela consegue limpar uma privada dentro e fora em menos de um minuto. Está mais para assustador.” Tomando a chave, eu passei ao redor dele. Eu tinha plenas intenções de fechar a porta entre nós, mas enquanto me virava, Joe preencheu a entrada, seus braços apoiados em ambos os lados da moldura.
“Não vai me convidar para entrar?” ele perguntou, sorrindo.
Eu pestanejei. Convidá-lo a entrar? Na minha casa? Com ninguém mais em casa?
Joe disse, “É tarde.” Seus olhos seguiram os meus de perto, refletindo um brilho caprichoso. “Você deve estar com fome.”
“Não. Sim. Eu quero dizer, sim, mas –”
De repente ele estava do lado de dentro.
Eu dei três passos para trás; ele cutucou a porta com seu pé para fechá-la. “Gosta de mexicana?” ele perguntou.
“Eu –” Eu gostaria de saber o que você está fazendo dentro da minha casa!
“Tacos?”
“Tacos?” eu ecoei.
Isso pareceu diverti-lo. “Tomates, alface, queijo.”
“Eu sei o que é um taco!”
Antes que eu pudesse impedi-lo, ele passou cavalgando por mim para dentro da casa. No fim do corredor, ele dirigiu-se a esquerda. Para a cozinha.
Ele foi até a pia e abriu a torneira enquanto esfregava sabão até a metade de seus braços. Aparentemente tendo ficado à vontade, ele foi primeiro para a despensa, então pesquisou a geladeira, pegando itens aqui e ali – salsa, queijo, alface, um tomate. Então ele escavou as gavetas e achou uma faca.
Eu suspeitei que estava na metade de um ataque de pânico com a imagem do Joe segurando uma faca quando outra coisa capturou minha atenção. Eu dei dois passos para frente e olhei de soslaio para o meu reflexo em uma das frigideiras suspensas no pendura-panelas. Meu cabelo! Parecia um arbusto seco gigante que tinha rolado para o alto da minha cabeça. Eu bati uma mão na minha boca.
Joe sorriu. “Você tem cabelo ruivo natural?”
Eu o encarei. “Eu não tenho cabelo ruivo.”
“Odeio ter que te informar disso, mas é ruivo. Eu podia tocar fogo nele e ele não ficaria mais vermelho.”
“É castanho.” Então talvez eu tivesse a menor, mais minúscula, mais infinitesimal quantidade de castanho avermelhado no meu cabelo. Eu ainda era morena. “É a iluminação,” eu disse.
“É talvez sejam as lâmpadas incandescentes.” O sorriso dele levantou ambos os cantos de sua boca, e uma covinha surgiu.
“Eu volto logo,” eu disse, me apressando para fora da cozinha.
Eu subi as escadas e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Com isso fora do caminho, eu juntei meus pensamentos. Eu não estava totalmente confortável com a ideia do Joe vagando livremente pela minha casa – armado com uma faca. E a minha mãe me mataria se descobrisse que eu tinha convidado Joe para entrar quando Dorothea não estava.
“Pode ficar para outro dia?” eu perguntei ao encontrá-lo ainda trabalhando arduamente na cozinha dois minutos mais tarde. Eu coloquei uma mão no meu estômago, sinalizando que ele estava me incomodando. “Enjoada,” eu disse. “Eu acho que foi a carona.”
Ele parou de cortar e olhou para cima. “Eu quase acabei.”
Eu notei que ele tinha trocado de faca por uma lâmina maior – e mais afiada.
Como se ele tivesse uma janela para os meus pensamentos, ele levantou a faca, examinando-a. A lâmina brilhou na luz. Meu estômago se apertou.
“Abaixa a faca,” eu instrui silenciosamente.
Joe olhou de mim para a faca e então novamente. Após um minuto ele a deitou na minha frente. “Não vou te machucar, Demi.”
“Isso é... tranqüilizante,” eu consegui dizer, mas minha garganta estava apertada e seca.
Ele girou a faca, o cabo apontado na minha direção. “Vem aqui. Vou te ensinar a fazer tacos.”
Eu não me movi. Havia um brilho nos olhos dele que me fez pensar que eu devia estar com medo dele... e eu estava. Mas aquele medo era igualmente fascinante. Havia algo extremamente perturbador em estar perto dele. Na presença dele, eu não confiava em mim mesma.
“Que tal... um acordo?” Seu rosto estava curvado, enegrecido e ele olhou para mim através de seus cílios. O efeito era uma impressão de integridade. “Me ajude a fazer tacos, e eu responderei algumas de suas perguntas.”
“Minhas perguntas.”
“Eu acho que você sabe o que eu quero dizer.”
Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Ele estava me dando um vislumbre de seu mundo particular. Um mundo onde ele conseguia falar com a minha mente. Novamente ele sabia exatamente o que dizer, exatamente no momento certo.
Sem uma palavra, eu me movi para seu lado. Ele deslizou a tábua de corte na minha frente.
“Primeiro,” ele disse, vindo por trás de mim e colocando suas mãos no balcão, bem do lado das minhas, “escolha o seu tomate.” Ele abaixou sua cabeça para que sua boca estivesse na minha orelha. Seu hálito estava quente, fazendo cócegas na minha pele. “Ótimo. Agora, pegue a faca.”
“O chefe sempre fica tão perto?” eu perguntei, não certa se eu gostava ou temia a palpitação que sua proximidade causava dentro de mim.
“Quando ele está revelando segredos culinários, sim. Segure a faca com vontade.”
“Eu estou segurando.”
“Ótimo.” Recuando, ele me deu uma olhada minuciosa, parecendo escrutinar cada imperfeição – seus olhos moviam-se para cima e para baixo, aqui e ali. Para cada momento enervante, eu pensei ter visto um sorriso secreto de aprovação. “Cozinhar não é algo que se ensina,” Joe disse. “É herdado. Ou você tem ou não tem. Como química. Você acha que está pronta para química?”
Eu pressionei a faca pelo tomate; ele foi dividido em dois, cada metade balançando gentilmente na tábua de corte. “Me diz você. Estou pronta para química?”
Joe fez um som profundo que eu não consegui decifrar e sorriu ironicamente.
Após o jantar, Joe levou nossos pratos para a pia. “Eu lavo, você seca.” Caçando nas gavetas na lateral da pia, ele achou um pano de prato e o tirou brincalhonamente para mim.
“Estou pronta para te fazer aquelas perguntas,” eu disse. “Começando com aquela noite na biblioteca. Você me seguiu...”
Eu dissipei. Joe se inclinou preguiçosamente contra a bancada. Cabelo negro saia debaixo de seu boné de beisebol. Um sorriso repuxou as boca. Meus pensamentos dissolveram e bem assim, um pensamento novo penetrou a superfície da minha mente.
Eu quero beijá-lo. Agora.
Joe arqueou suas sobrancelhas. “O quê?”
“Hãn – nada. Nada mesmo. Você lava, eu seco.”
O que aconteceu com tratar Joe como seu pior hábito? Eu perguntei a mim mesma. O que aconteceu com jogar fora o velho, e ficar com o novo?
Não levou muito para terminar com os pratos, e quando terminamos, nos encontramos comprimidos no espaço próximo a pia. Joe se deslocou para pegar o pano de mim, e nossos corpos se tocaram. Nenhum de nós se moveu, segurando o elo frágil que nos unia.
Eu recuei primeiro.
“Assustada?” ele murmurou.
“Não.”
“Mentira.”
Meu pulso subiu um degrau. “Não tenho medo de você.”
“Não?”
Eu falei sem pensar. “Talvez seja só que eu tenha medo de –” eu me amaldiçoei por ter começado a frase. O que eu deveria dizer agora? Eu não estava prestes a admitir para o Joe que tudo nele me assustava. Isso lhe dava permissão para me provocar ainda mais. “Talvez seja só que eu tenha medo de... de –”
“Gostar de mim?”
Aliviada por não ter que terminar minha própria fase, eu automaticamente respondi, “Sim.” Eu percebi tarde demais o que havia confessado. “Quero dizer, não! Definitivamente não. Não era isso que eu estava tentando fazer!”
Joe riu suavemente.
“A verdade é que, parte de mim definitivamente não fica confortável ao seu redor,” eu disse.
Eu agarrei a bancada atrás de mim para me apoiar. “Mas ao mesmo tempo eu sinto uma atração assustadora por você.”
Joe sorriu ironicamente.
“Você é metido demais,” eu disse, usando minha mão para empurrá-lo um passo para longe.
Ele prendeu a minha mão contra seu peito e puxou minha manga pelo meu pulso, cobrindo minha mão com ela. Tão rapidamente quanto, ele fez a mesma coisa com minha outra manga. Ele segurou minha camiseta pelos punhos, minhas mãos capturadas. Minha boca se abriu em protesto.
Me puxando para mais perto, ele não parou até que eu estivesse diretamente na frente dele. De repente ele me levantou na bancada. Meu rosto estava no nível do dele. Ele me fixou com um sorriso negro e convidativo. E foi aí que eu percebi que esse momento estivera dançando nas beiradas das minhas fantasias por diversos dias já.
“Tire seu boné,” eu disse, as palavras saindo antes que eu pudesse impedi-las.
Ele o deslizou ao redor, a aba para trás.
Eu me movi para a beirada da bancada, minhas pernas balançando de cada lado das dele. Algo dentro de mim estava me dizendo para parar – mas eu varri essa voz para o fundo da minha mente.
Ele esparramou suas mãos na bancada, bem do lado de fora dos meus quadris. Inclinando sua cabeça para um lado, ele se moveu mais para perto. O cheiro dele, que era todo de terra escura úmida, me inundou.
Eu inalei duas respirações agudas. Não. Isso não estava certo. Isso não, não com o Joe. Ele era assustador. De um jeito bom, sim. Mas também de um jeito ruim. Um jeito muito ruim.
“Você deveria ir,” eu respirei. “Você definitivamente deveria ir.”
“Ir para cá?” Sua boca estava no meu ombro. “Ou para cá?” Ela se moveu para o meu pescoço.
Meu cérebro não conseguia processar um pensamento lógico. A boca do Joe estava perambulando para o norte, sobre a minha mandíbula, sugando gentilmente minha pele...
“Minhas pernas estão adormecendo,” eu soltei. Não era uma mentira total. Eu estava experimentando sensações de formigamento por todo o meu corpo, inclusive as pernas.
“Eu posso resolver isso.” As mãos do Joe se fecharam nos meus quadris.
De repente meu telefone celular tocou. Eu pulei ao som dele e tateie-o no meu bolso.
“Oi, docinho,” minha mãe disse alegremente.
“Posso te ligar de volta?”
“Claro. O que está acontecendo?”
Eu desliguei o telefone. “Você precisa ir embora,” eu disse ao Joe. “Agora.”
Ele deslizou seu boné de beisebol de volta. Sua boca era o único traço que eu conseguia ver por debaixo dele, e ela se curvou em um sorriso travesso. “Você não está usando maquiagem.”
“Eu devo ter esquecido.”
“Bons sonhos essa noite.”
“Claro. Sem problema.” O que ele tinha dito?
“Sobre aquela festa amanhã à noite...”
“Eu pensarei nisso,” eu consegui dizer.
Joe enfiou um pedaço de papel dentro do meu bolso, seu toque mandando sensações quentes pelas minhas pernas. “Aqui está o endereço. Eu estarei te procurando. Venha sozinha.”
Um momento mais tarde eu escutei a porta da frente fechar atrás de mim. Um rubor feroz subiu até o meu rosto. Perto demais, eu pensei. Não havia nada de errado com fogo... contanto que você não chegasse muito perto. Algo para se ter em mente. Eu me inclinei contra os armários, tomando fôlegos curtos e rasos. 

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Olá pra todo mundo, tava meia sumida porque tava sem not e minha internet pega só na madrugada --' açlsaçsl. Mais ai está o capítulo, to meia que desanimando do blog e tal, to com uma preguiça enorme pra arrumar tudo aqui. Alguém quer dar uma ajudinha? entrar em contato plis çalsaçslaçls
Muuito obrigada pelos comentarios, Respondendo: 

Diana (DSP): Vou colocar sim, fico feliz que tenha gostado da fic, adoro seu blog e amo história de suspense açslaçsl, volte sempre Diana, você é muito bem-vinda.

Suzanny: Conseguiu seguir? ae ae o/ çalsçals, muito obrigada, de verdade.

Mari Diley: Seu blog está divulgado no selinho açslaçsl, que bom que está gostando

 .Thαis: Hush Hush é super viciante né? çalsçasçlçals seja muuuito bem vinda Thais, obrigada pelo seu comentario 


Até a próxima pessoal, não esqueçam de comentar ok?

4 comentários:

  1. hey nossa adoro quando tem capitulos duplo *-*
    vou seguir o blog pode seguir o meu? wwwsasse.blogspot.com.br a historia é sobre jemi!

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  2. bem n tem membros no seu blog,mais vou seguir ocultamente.

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  3. Obrigada por ler o meu blog. Que bom que gostou.
    Adorei os capítulos.
    Posta logo.

    Bjs :)

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  4. perfeitoooooooooo, é viciante mesmo, caramba !!
    Porque eles não se pegaram logo hein? uhaushaushaush
    Posta logo, beijo

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